No epílogo de “A ascensão de Arturo Ui”, Brecht escreve o seguinte:
“Por isso aprendam a ver e não a fitar.
Aprendam a agir e não falar, só falar.
Por um destes foi quase o mundo conquistado!
Mas os povos reagiram, foi controlado.
Não se julguem, porém, livres do perigo –
Inda dá frutos a cova deste inimigo!”
A recente história do mundo tem revelado incríveis semelhanças com um passado sombrio. As estratégias são antigas, alteraram-se os instrumentos para a contemporaneidade. Os projetos autoritários que têm emergido um pouco por todo o mundo não se tornaram menos perigosos que a máfia. Eles encontraram um lugar mediático disposto a ouvi-los e a normalizar os seus discursos de ódio.
Olhemos para dentro das nossas fronteiras e para a mais refinada demagogia com assento parlamentar. Arturo Ui é uma personagem facilmente reconhecível na nossa paisagem política. O seu gangue de mafiosos são personagens muito presentes nas redes sociais, nas mensagens privadas de ódio, nas caixas de comentários dos órgãos de comunicação social, tantas vezes replicadas nas conversas de mesa de café.
Entretanto, a reconfiguração do sistema político está já em curso e a extrema-direita apresenta-se como terceira força política no panorama nacional. Os discursos de ódio proliferam e os reacionários saem da toca disputando um lugar ao sol.
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