ARREDIA é um projeto da artista Mariana Guarda e nasce como um regresso à terra após um longo afastamento. Em fase embrionária, este objeto performativo e visual é concebido para espaços não convencionais, onde um corpo solitário se confronta com a imensidão do espaço natural. Um solo que entrelaça teatro, cinema e registo documental, convocando o corpo como lugar de memória e a paisagem como arquivo vivo.
O ponto de partida reside nos ensinamentos populares transmitidos pela sua avó, ligados à flora do Norte: gestos de cuidado, maneiras de colher, nomear e proteger. Esses saberes, sobreviventes no corpo mas ausentes no quotidiano urbano, reaparecem aqui como necessidade, urgência de religação à origem.
ARREDIA integra vídeo e performance ao vivo, cruzando imagens recolhidas em viagem com a presença física da intérprete. A justaposição entre corpo e imagem explora as fissuras entre o que se lembra e o que se esqueceu, entre o visível e o subterrâneo. O tom documental do vídeo confronta-se com a experimentação do corpo – um corpo que observa, hesita e se orienta como quem regressa a uma língua quase perdida.
Este projeto estabelece-se como a primeira parte de um díptico. A segunda parte, atualmente em produção com apoio da GDA (2024), é uma curta-metragem centrada no reencontro de uma família de mulheres da Beira Alta – mulheres unidas por raízes invisíveis, tensas e ancestrais – onde se reflete sobre heranças emocionais: aquilo que nutre, aquilo que consome.